Em algum momento lá atrás, nos idos tempos da “bolha da internet”, o mundo foi apresentado a um novo modelo de empresas, que ficou conhecido como startups. Aproveitando novas possibilidades com a disseminação da internet, e evoluindo cada vez mais com as facilidades proporcionadas pelas contratações de recursos em nuvem, um mundo disruptivo se formou e diversas pessoas empreendedoras usaram as tecnologias incipientes e puderam transformar ideias em empresas.
Mais ou menos no mesmo momento, vimos a publicação dos primeiros documentos onde surgia o termo governança corporativa. A preocupação com a profissionalização da gestão das empresas tomou força em função de alguns motivos, mas, basicamente, devido ao cenário cada vez mais complexo das empresas com diversas partes envolvidas e interessadas, novas relações, leis, tecnologias, globalização e crescimento. Tornaram-se necessárias novas formas de direção, monitoramento e controle das organizações empresariais, para a perenidade e suas implicações.
Desde então, as práticas de uma boa governança corporativa vêm evoluindo, com disseminação de conhecimento de importantes órgãos especializados de apoio, em todo o mundo. Se não obrigatória em alguns segmentos, essas práticas são cada vez mais utilizadas pelas empresas, num nítido entendimento de necessidade para um desempenho sustentável.
A estrutura atual de governança corporativa contempla a definição de conselhos de administração e/ou consultivos, conselho fiscal, comitês de auditoria, comitês internos e auditorias externas e internas, como mostrado abaixo.
Visto como um modelo caro e “não ágil”, em função dessa estrutura, a governança corporativa tradicional não foi um modelo adotado pelas startups, apesar de serem contemporâneos, como visto acima. Pareciam incompatíveis a simplicidade e agilidade das startups versus uma estrutura tão robusta de governança. De certa forma, uma percepção verdadeira. Entretanto, com o caminhar do tempo, os benefícios da adoção da governança corporativa pelas organizações empresarias tornaram-se claros e estabelecidos e, por conta desta evidência, a adequação das boas práticas ao universo particular das startups foi algo natural e necessário.
Apesar de serem empresas mais simples e com necessidade de serem ágeis, as startups possuem diversas características semelhantes às grandes corporações, sendo extremamente indicada a adoção das boas práticas de uma governança corporativa. Sócios, investidores, colaboradores, clientes, órgãos reguladores e fiscalizadores, responsabilidades, prestação de contas, transparência, sustentabilidade, busca pela perenidade, são alguns exemplos comuns entre qualquer empresa ou startup e justificam essa preocupação com a profissionalização da gestão.
Hoje em dia, nesse sentido de um modelo mais “enxuto” e adaptável, temos o padrão Lean Governance, uma proposta de governança sob medida, que se adequa muito bem para startups
O modelo do lean governance considera as fases da startup, mas integra uma proposição de governança corporativa desde a sua concepção, garantindo que, no momento correto e necessário, a estrutura final estará implementada. Enquanto isso, boas práticas são inseridas aos poucos no decorrer da evolução das fases, podendo começar com Advisor ou mesmo a composição de um Conselho Consultivo que, por si só, já coloca a startup em outro nível de governança.
O Conselho Consultivo tem caráter de aconselhamento para os empreendedores, orientando e realizando conexões, podendo ser, inclusive, em modelo pro-bono. Diferente do Conselho de Administração, que tem o papel de orientar e conectar, mas, também, de deliberações de decisões, além de responsabilidade fiduciária com os stakeholders (papel formal de administrador), com membros, normalmente, remunerados pela participação. O Conselho de Administração é constituído nas fases mais avançadas da startup.
É importante que o conselho seja constituído por membros alinhados ao propósito da startup e que consigam agregar com o seu conhecimento e networking. Eles devem ser os embaixadores da empresa. Entretanto, importante também que o conselho seja plural e consiga direcionar assuntos diversos que são importantes num contexto de empresa e cenários atuais. Alguns exemplos de temas:
Uma outra importante visão de boas práticas é o Lean Governance Canvas, que orienta as startups na definição e implementação de processos e ações, também em conformidade com a fase em que se encontram. A partir de alguns pilares, são definidas as ações associadas que devem ser executadas, visando melhor estruturação e gestão.
A startup consegue criar um checklist baseado nos pilares e ações do Canvas, realizando um plano de ação para o acompanhamento da execução, de acordo com a sua fase. Nesse processo, é possível identificar ações que faltaram em determinada fase e o devido planejamento de execução.
Uma startup que segue as boas práticas de governança corporativa, mesmo as práticas “enxutas”, possui muito mais chances de sucesso, seja em função de atrair investidores pela ótima gestão, seja por ter apoio e orientações preciosas de profissionais competentes membros de conselhos, ou mesmo por ter as ações e processos certos, implementados no momento correto. Metodologias e orientações para essa adoção não faltam.